Assim como em um ramo de atuação de um negócio, os conselhos de administração também passam por mudanças profundas de tempos em tempos. Mudanças estas não ligadas à sua razão de ser ou ao seu caráter natural: um espaço decisório para condução da empresa em um rumo estratégico. Isso não muda. O que muda é o que vem de fora: as transformações inevitáveis de um mundo em constante movimento.
Exatamente como agora.
Já faz um tempo que o mercado e o consumo se veem obrigados a surfar na mesma onda das inovações tecnológicas de uma sociedade hiperconectada e veloz. Somado a isso, ainda estamos diante de uma pandemia que vem deixando marcas profundas para o futuro. Analistas apontam que, desde a Grande Depressão de 1929, o mundo não se deparava com uma crise tão grande e tão volátil quanto agora.
Isso, claro, interfere diretamente nas empresas e desafia os Conselhos de Administração. Historicamente, o papel principal dos conselheiros é descentralizar o controle empresarial e manter o direcionamento estratégico da empresa, protegendo seu patrimônio e maximizando o retorno sobre seus investimentos.
Como não é possível mudar um movimento externo, então, o desafio é olhar para dentro e reformular algumas práticas e formatos operacionais e reconfigurar algumas funções tradicionais.
O comando da empresa e o estilo da liderança – seja da alta gestão ou, então, dos sócios e investidores – também têm influência direta no sucesso do negócio e o conselho precisa estar alinhado a isso.
Neste sentido, as habilidades e competências dos profissionais que compõem o conselho são preponderantes e também podem ser o grande diferencial do negócio. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou cinco características que causam prejuízos à performance de um conselheiro: baixa capacidade em confrontar e questionar, apego ao poder, ego e arrogância, falta de educação continuada e dependência emocional do status que o cargo proporciona.
Além disso, a estratégia empresarial também depende diretamente do perfil, da visão e do posicionamento dos conselheiros para que a empresa consiga atender aos novos desafios do futuro. Por vezes, esse posicionamento pode ser mais flexível. Mas em outros momentos podem exigir mais firmeza – o que demonstra a necessidade de uma constante reformulação do órgão.
A seguir, serão listados alguns fatores que influenciam no propósito e função dos novos conselhos, sendo eles: mercado de atuação, saúde financeira da empresa, estágio do negócio, estratégia empresarial, modelo de negócio, maturidade da alta gestão, propósito empresarial, valores e ideologias, apetite ao risco, nível de inovação tecnológica, tendências mercadológicas e ambiente regulatório.
A área de atuação do negócio exige que a tomada de decisões acompanhe a volatilidade do mercado, mantendo a empresa em posição estratégica perante todas as mudanças.
O estágio em que se encontra a empresa e a sua jornada de evolução ao longo dos anos também pode exigir uma revisão constante das funções do conselho. Quanto mais em estágio inicial esteja o negócio, por exemplo, maior será a exigência de maturidade. Mas conforme ele se desenvolve, outras carências vão surgindo e novos perfis de conselheiros vão sendo necessários para que a empresa possa manter o ritmo do progresso.
Da mesma forma, a saúde financeira do negócio e seus indicadores de faturamento, lucro bruto, lucro líquido, EBITDA e ROI também podem exigir replanejamento e reengenharia econômica para buscar um equilíbrio sustentável em momentos de crise.
O propósito empresarial, a ética e os aspectos intangíveis (como valores, filosofia, ideologias, convicções e crenças que devem ser seguidos por todos) são mecanismos invisíveis de condução e, claro, também impactam diretamente na postura do conselho.
Por fim, o ambiente regulatório que recai sobre a empresa também deve ser considerado, pois a tríade empresa-sociedade-governo exerce influência mútua uma nas outras, exigindo busca por equilíbrio e harmonia.
Da mesma forma, o nível de inovação que a empresa está disposta a adotar (que também indica o modo como deve se organizar), o apetite ao risco que ela possui e a capacidade de olhar para o futuro e para as tendências exigem uma consolidação de estratégias de gestão, talentos pessoais e recursos necessários. Afinal, as transformações sociais, ambientais e digitais influenciam os comportamentos e o mercado – e, claro, impactam também os negócios, exigindo atitudes mais reativas e ágeis.
Não há dúvida, portanto, do tamanho da necessidade de se manter as funções e atribuições do conselho em constante revisão. E também, não há dúvidas de que somar novos perfis e novas visões ao grupo é sempre essencial para acompanhar a evolução do mercado e da sociedade.
E a sua empresa, qual estratégia tem adotado?